quarta-feira, 16 de junho de 2010

Despedida de solteiro

Desconfio que o namoro possua significado diferente aos olhos balzaquianos. Ele tornou-se um quase-casamento. Não faz muito tempo que o namoro era uma fase de conhecimento, um test-drive, e o nível de compromisso era menos intenso. As pessoas eram mais flexíveis e possuir várias namoradas não exigia pós-doutorado em administração de complexidades. Tal variedade de namoradas era inclusive incentivada pelos pais. Meu pai, por exemplo, casou-se aos 40 anos e seu conselho era: – Filho, tenhas várias namoradas antes do casamento, mesmo que apenas sequenciais.

Tal compromisso com o namoro deve ter origem na variedade de configurações pré- e pós-casamento dos tempos atuais. Casais se divorciam ou cultivam relacionamentos extra-conjugais com acentuada frequencia. Tanto pais quanto mães solteiras são cada vez mais comuns na sociedade balzaquiana brasileira. O período pré-namoro é também prenhe de novas configurações. Relacionamentos aleatórios, encontros de uma única noite e o Carnaval de Salvador contribuem para a aumentar a diversidade de encontros e desencontros. Diante dessa diversidade de configurações pré- e pós-casamento, o namoro ganhou ares matrimoniais.

O pedido de namoro balzaquiano é qual pedido de casamento. O namoro passou a envolver uma fidelidade irrestrita, uma enormidade de regras conjugais comparáveis ao matrimônio e, em alguns casos, até compartilhamento de moradia. Pedir em namoro é algo que instiga medo em nós pobres mortais pós-30. Esteja preparado para ajoelhar-se e comprar aquele belo anel. Recitar sem hesitação aquele poema romântico ou tocar no violão aquela música infalível com voz de veludo, após um belo jantar (preparado por você) regado a um bom vinho de safra excepcional.

Meu avô conseguia gerenciar confortavelmente várias namoradas em variadas bases geográficas. Dr. Antônio, viúvo, 40 anos, morava em Salvador, possuía um quarto e sala no Rio de Janeiro em plena década de 50, e várias belas namoradas. Hoje, tal façanha é praticamente impossível. Telefone celular, correio eletrônico, Twitter, Orkut, Facebook, MSN, Skype, iPhone 4 (com uma famigerada câmera dupla que permite chamada de vídeo) e afins, minam nossa capacidade de gerenciar namoros. Todos sabem dos nossos passos, das nossas fotos e amigos mais recentes, do nosso novo creme de barbear e da cor de nossas roupas íntimas.

Não que eu esteja a pregar a infidelidade durante o namoro em pleno Dia dos Namorados. Não me entendam mal. Por favor, não me crucifiquem. Acredito apenas que o namoro não deva ser um casamento. Contudo, caso esse seja um estorvo mandatário aos balzaquianos, ao menos, merecemos uma intensa despedida de solteiro!


Para ler mais, acesse: www.Balzaquianos.com

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