quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bebida sagrada dos negros quilombolas vira negócio




por Redação 24HorasNews
     Energética, afrodisíaca e saborosa, a bebida sagrada de negros quilombolas, o Kanjinjin, está virando negócio para os descendentes de africanos do município de Vila Bela, primeira capital do Mato Grosso, a 512 quilômetros da capital Cuiabá, quase na fronteira com a Bolívia.
     
     A bebida, com aparência e sabor de licor, feita artesanalmente por quase 80 pessoas da comunidade, que já tem marca registrada, vai ser comercializada por meio da recém-formada Cooperativa de Vila Bela (Cooperbela).
     
     A ação conta com apoio do Sebrae no Estado. Em parceria com secretarias de estado, está contribuindo para revitalizar a cultura e a economia do município. A bebida secular está ligada à tradição dos negros moradores de uma área remanescente do Quilombo Tereza de Benguela, escrava que era rainha em Angola, na África, informa a líder da Unidade de Desenvolvimento Local da instituição no Mato Grosso, Dalila Jabar. Na receita, além de cachaça, tem mel, gengibre, cravo, erva-doce, canela e raízes colhidas na região.
     
     Até umas duas décadas atrás era consumida apenas uma vez por ano, durante a Dança do Congo, que reúne três festas no período de 14 a 25 de julho. Para agüentar uma maratona de dias dançando sem parar, os personagens centrais das apresentações, que homenageiam o Divino Espírito Santo, São Benedito e a Santíssima Trindade, recebiam a bebida em cantis e bebiam goles de quando em vez.
     
     A comercialização informal da bebida começou quando uma pessoa da comunidade pediu licença para os outros integrantes e começou a fazer para vender. A explosão no interesse pelo Kanjinjin veio com uma reportagem da TV Globo, há alguns anos, sobre as tradições da comunidade. “A pedido dos moradores ingressamos no município para organizar a produção faz três meses”, relata a técnica do Sebrae. Os artesãos estão participando de cursos sobre boas práticas de alimentação e cooperativismo. A cooperativa foi registrada em agosto deste ano.
     
     Desde 1994, produzindo na sua casa o Kanjinjin, a artesã Darci Carneiro Geraldes, diz que sua sobrevivência depende da bebida. “Faço pouco porque não tenho vasilhame suficiente, mas com a cooperativa acho que vai melhorar muito para nós”, acredita. Vestida a caráter, com vestidos longos e coloridos, à moda africana, ela e outras artesãs vieram para o Amazontech em caravana do município.
     
     Com a cooperativa, além do negócio dos artesãos estar formalizado, eles abrem espaço para outras iniciativas. Cada artesão terá a cozinha de casa adequada para a produção. Esse trabalho será feito por meio das secretárias de estado.
     
     A produção continuará individual, mas os artesãos querem comercializar por meio da cooperativa. Depois da formação da cooperativa, “vamos trabalhar processos, adequar procedimentos, tentar trabalhar com produtos iguais”, explica a técnica. O Kanjinjin vai ganhar um único rótulo, mas cada produtor terá um selo com a sua identificação.
     
     A secretária Estadual de Trabalho, Emprego e Cidadania Terezinha Maggi, diz que além do Kanjinjin estão sendo executadas outras ações no município. “Queremos reavivar essa cultura, valorizar a história esquecida da primeira capital do Estado“, diz. No planejamento da secretaria está a construção de um centro cultural, que também servirá para abrigar e comercializar o artesanato local.
     
     O trabalho desenvolvido no município integra as ações do Programa de Desenvolvimento do Empreendedor Municipal, tocado pelo Sebrae em Mato Grosso em parceria com a Secretaria Estadual de Planejamento. Por meio do programa já são atendidos 30, dos 139 municípios do Estado.

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