sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mestres da cultura recebem certificado de Patrimônio Vivo

“O melhor do Brasil é o brasileiro”. Foi com esta frase de Luís da Câmara Cascudo que o secretário adjunto de Estado da Cultura, Álvaro Otacílio, saudou os presentes na solenidade de entrega do certificado de inscrição no Registro de Patrimônio Vivo de Alagoas.
A solenidade aconteceu no salão de despachos do Museu Palácio Floriano Peixoto, nesta quarta-feira (24), quando os onze novos nomes passaram a integrar o Livro de Registro do Patrimônio Vivo (RPV) do Estado. Com grande diversidade cultural, passam a integrar este Livro representantes dos folguedos populares, repentistas, cordelistas, benzedeira, artesãos e religiosos de matriz africana.
O secretário adjunto de Estado da Cultura destacou que o Registro é mais do que um reconhecimento, é também um instrumento de preservação, promoção, reprodução e transmissão dos ofícios e modos de fazer característicos da cultura tradicional.
“Este é um momento de felicidade, quando a sociedade, através do Estado, reconhece publicamente a contribuição dos artífices da formação de nossa identidade e diversidade cultural, inserindo no RPV nomes das mais diversas áreas da nossa cultura”, disse o secretário.
Álvaro Otacílio explicou que é dever do Estado estabelecer mecanismos de salvaguarda da cultura e que a descaracterização ou o desaparecimento dessas manifestações populares são perdas irreparáveis para a identidade cultural. “Um povo sem memória é um povo sem referência e sem identidade. É por isso que o governo do Estado vem trabalhando na preservação desta identidade cultural”, afirmou.
A Lei do Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas entrou em vigor no ano de 2004. Os primeiros mestres foram reconhecidos com o registro no ano de 2005. Ao longo desses anos, 40 ícones da cultura popular alagoana tornaram-se Patrimônio Vivo. Destes, sete já faleceram, mas inseriram seus nomes no grande livro da cultura popular de Alagoas.
Todo ano a Secretaria de Estado da Cultura lança este edital para a seleção de novos mestres. Este ano o processo seletivo contou com 42 inscritos. Uma Comissão Especial para Avaliação das Candidaturas foi constituída para selecionar os candidatos, de acordo com os critérios previstos no edital.
Os nomes selecionados foram encaminhados para a aprovação do Conselho Estadual de Cultura. Esses Patrimônios Vivos passam a receber como benefício uma bolsa de incentivo vitalícia de 1,5 salário mínimo para a manutenção dos grupos e o repasse dos conhecimentos.

Homenageados falam da emoção em ser Patrimônio Vivo de Alagoas
A solenidade contou com a presença do defensor público Eduardo Lopes, do membro do Conselho Estadual de Cultura, Eduardo Lyra, da presidente da Associação dos Folguedos de Alagoas, Suely Cavalcante, do prefeito de Capela, Adelmo Calheiros, da atriz global Chica Xavier, o secretário adjunto da Comunicação, Mário Lima, além de familiares e amigos dos homenageados.
A Mãe Neide foi agraciada com o título de mestre pelo trabalho e difusão da religião que participa há 35 anos. Seu certificado foi entregue por sua madrinha, a ialorixá e atriz Chica Xavier. “Eu dedico este título ao povo negro. Falar que estou feliz é muito pouco. Eu estou como porta-voz deles e quero honrar essa oportunidade que o governo do estado nos concede de imortalizar a nossa religião”, relata Mãe Neide.
Segundo a religiosa, o certificado de reconhecimento de patrimônio vivo serve também, para fortalecer e incentivar as outras mães do nosso estado a resistir às opressões e continuar desenvolvendo o seu trabalho com jovens e adultos.
Os familiares presentes declararam o seu orgulho pelo título concedido aos artistas, a filha do cordelista João Pereira de Lima, Eliene Costa revelou que aquele momento era muito especial. “Meu pai ser reconhecido vivo, como filha, eu me sinto muito orgulhosa, pois muitos artistas só são reconhecidos depois que morrem”, argumenta.
Para a neta de João Pereira de Lima, Camila Costa, a família sente-se prestigiada em saber que ele está recebendo esse incentivo. “Esse momento não é só um reconhecimento pelo que ele faz, mas acredito ser uma realização pessoal dele e esperamos que a sua arte não se perca”, disse.
Emocionada, a rainha e coordenadora do guerreiro Leão Devorador, Anadeje Moraes falou da reponsabilidade de assumir um espaço que já foi de sua mãe, Mestra Maria Vitória, falecida em 2009. “É uma honra dá continuidade ao legado deixado por minha mãe”, disse a rainha que comanda em seu grupo 30 pessoas, de 12 a 55 anos.
O artesão do barro, João das Alagoas que recebeu o certificado das mãos do prefeito de seu município natal declarou que ser considerado mestre é algo muito grande. “A gente luta para fazer essa arte e o povo fala muito de políticos, mas essa iniciativa de reconhecer o nosso trabalho é fundamental”, desabafou.
Não só arte, mas também saber. A parteira e rezadeira, Anézia Maria aos 109 anos emocionou os participantes da solenidade. Ela que adquiriu o ofício dos escravos recebeu o certificado de mestre devido aos partos e às rezas pelo Quebranto e Ventre Caído em Santa Luzia do Norte.
Lista dos novos inscritos no Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas
Anadeje Morais da Silva – É rainha e coordenadora de guerreiro. Herdou da mãe o gosto pelo folguedo. A frente do Guerreiro Leão Devorador ela comanda 30 pessoas, de 12 a 55 anos. Seu grupo já se apresentou em São Paulo, Salvador e Recife.
Anézia Maria da Conceição – É rezadeira e parteira. De Santa Luzia do Norte ela herdou os saberes dos escravos. Realizou seu primeiro parto aos 15 anos e hoje, aos 109 ela é conhecida pelo ofício de rezar para quebranto e ventre caído.
André Joaquim dos Santos – Atua há 28 anos como Mestre de Guerreiro, ele comanda o Guerreiro Mensageiros Padre Cícero.
Artur Moraes dos Santos – É mestre de guerreiro, ele começou a dançar o guerreiro aos 10 anos de idade e foi um dos responsáveis pela formação do Guerreiro Santa Izabel, na Chã da Jaqueira.
Expedito Tavares dos Santos – Da cidade de Viçosa este é um dos poucos mestres de reisado em atividade. O tradicional Reisado de Viçosa tem a participação deste Mestre e sua família.
Maria de Lourdes Menezes – É a artesã das bonecas. De Piaçabuçu esta Mestra brincava com bonecas confeccionadas pela própria mãe, foi quando aprendeu este saber.
Maria Neide Martins – A ialorixá Mãe Neide se interessa pelas questões ligadas às religiões de raízes africanas desde os 13 anos. Com 35 anos de religião, ela desenvolve um trabalho com um grupo para auxiliar o entendimento e o contato dos jovens com a religião, além de desenvolver projetos de inclusão social, grupos de dança e capoeira.
João Carlos da Silva – O artesão conhecido por João das Alagoas trabalha com o barro desde criança. De Capela, ele é famoso pelas esculturas feitas em cerâmica e pelo seu ateliê onde repasse o saber para crianças e adolescentes da região.
João Pereira de Lima – Natural de Porto Real do Colégio, o violeiro, trovador, cordelista e repentista percorre todo o Brasil com sua viola, divulgando Alagoas em verso e prosa. Já publicou mais de vinte folhetins e 25 livros, além de já ter gravado CD e DVD.
Jorge Calheiros da Silva – Este cordelista escreve e declama cordel há 25 anos. Ele tem 64 edições já publicadas.
Severino João da Silva – Conhecido como Mestre Jaçanã, o violeiro e repentista começou a cantar forró aos 7 anos de idade e aos 12 começou a cantar embolada. É mestre desde 1998 e criou sua família cantando nas praças, feiras, festas políticas e religiosas.
por Agência Alagoas

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