sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O mercado e as redes culturais

por Leonardo Brant

O mercado cultural é um dos raros ambientes onde não se aplica o princípio da concorrência. Aqui é o império da cooperação, dos processos colaborativos e da cultura de rede, constituindo um jeito próprio de pensar e fazer a sustentabilidade, a circulação e as trocas.
Fala-se muito em economia solidária, criativa, em moedas alternativas e até em um novo sociocapitalismo, baseado em formas de colaboração que extrapolam a lógica da mais valia, da corrupção e da exploração dos indivíduos em nome do poder econômico das corporações ou do ideologismo estatal.
O agente cultural é um empreendendedor, por vocação ou obrigação. Os esforços concentrados no desafio de erguer um projeto, uma ideia ou um negócio são sobre-humanos. E daí vem o desgaste natural e o desânimo de quem procura se manter, contra o mercado e muitas vezes contra o próprio Estado, que deveria estimular e facilitar esse processo, em nome de um maior fluxo das atividades culturais.
Não é por acaso que a grande maioria dos agentes culturais funciona à margem do sistema econômico formal, o que dificulta tanto a inserção no mercado quanto a relação com o poder público.
Sempre que eu viajava para fazer uma palestra sobre mercado cultural (e já visitei 24 estados brasileiros nessa função) fazia uma pergunta simples: quem aqui é empresário, com empresa aberta, CNPJ? Ou ainda: quem aqui tem carteira assinada, tem PIS/PASEP, FGTS? Invariavelmente percebia um ou, no máximo, dois braços levantados, sempre um funcionário do Estado, da prefeitura ou do SESC.
A solução mais comum para essas resistências é o compartilhamento de experiências, conteúdos, além das trocas de serviços e habilidades, que se constituem em força sinérgica motriz, que avança em forma de espiral por um número cada vez maior de agentes. Rapidamente o concorrente torna-se parceiro.
Existem inúmeras experiências bem-sucedidas, encorajadas pela cultura de rede, como por exemplo o Circuito Fora do Eixo, Eletrocooperativa, Feira Preta, só para citar três modelos distintos entre si. Novos mercados e modos de fazer são constituídos a partir dessa lógica, da não-violência, não-competição e diversidade.
Com as tecnologias de informacão e comunicação essa cultura ganha cada mais força, a ponto de contaminar positivamente inúmeras corporações tradicionais, que se utilizam cada vez mais de sistemas colaborativos, open source e redes sociais para dialogar de maneira mais aberta e ativa com seus consumidores e com toda a sociedade.
O antigo networking funde-se, em prática e significado, com a cultura de rede. Um bom exemplo disso é a Rede de Repensadores, que acabo de integrar, a convite da Repense Comunicação. Um modelo que explora a criatividade de parceiros para estimular negócios e, ao mesmo tempo, favore o fluxo de ideias inovadoras entre os próprios membros da rede.
Quando essa lógica é traduzida para as políticas públicas o efeito é igualmente estrondoso. Vide o fenômeno Cultura Viva, que cresceu e se consolidou a partir da visão de Gilberto Gil e o poder empreendedor de Celio Turino, baseando-se no potencial das redes para estimular as culturas locais.
Ou seja: vivemos o tempo das redes culturais. Colabore!

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