domingo, 29 de abril de 2012

VEVÉ CALAZANS: DESCANSE EM PAZ NAS ÁGUAS DE OXUM

POR CÉSAR RASEC
Foto: DIV
Gerônimo, parceiro em E d'Oxum e intérprete do hino baiano à boa música

 Mais uma porretada na música baiana, minguando ainda mais a safra dos bons compositores desta terra cada vez mais desértica em talentos. Não bastasse a morte do grande sambista Ederaldo Gentil e do músico Saul Barbosa, recebo a notícia do falecimento, na manhã deste sábado (28 de abril), do compositor Vevé Calazans, autor do clássico "É d'Oxum", parceria com Gerônimo.

O poeta, autor também de "Nega" e "Ilha Grande", só para citar alguns dos seus trabalhos midiatizados massivamente, lutava contra o câncer. Estava internado no Hospital Jorge Valente, onde deu os últimos suspiros ao lado de parentes e amigos próximos.

Vevé Calazans era uma pessoa tranquila, consciente das coisas que fazia, palavra por palavra e acorde por acorde.

Suas canções foram criadas pensando a totalidade do tempo, não para marcar uma época, para obedecer certos modismos e para agradar e afiar os espinhos dos que manipulam a indústria da música.

E a sabedoria de Vevé Calazans, basta conferir as suas canções, está em não atropelar os sinais vermelhos do semáforo da vida. Este ensinamento, herança do culto ancestral afro, representou e representa uma filosofia de vida, algo além do material.
Assim, foi eleito porta-voz das deidades, como Oxum. Todos desta cidade são d'Oxum, assegurava o poeta em canto irmanado com o também expoente musical Gerônimo, também autêntico representante de uma Bahia à frente do Brasil.

Antes de enviar este texto para o editor e mestre Tasso Franco, conversei com Luiz Caldas, que me confessou que Vevé foi muito importante no começo de sua carreira, sobretudo quando batia a saudade da Bahia. Nesta época, meados dos anos de 1980, Luiz Caldas convivia com Vevé Calazans no mesmo apartamento de Roberto Santana, no Rio de Janeiro, na fase inicial da explosão da baianidade axé.

E por meio de Luiz Caldas, em shows por todo o Brasil, a canção "É d'Oxum" ganhou espaço cativo no repertório do criador da Axé Music, que mostrava por tabela uma Bahia que seguia os passos de Jorge Amado, Dorival Caymmi, Cuíca de Santo Amaro e Tia Ciata.

Estou triste! Deixo ao final a letra de "É d'Oxum" para uma reflexão mais profunda.
Infelizmente, a Bahia está cada vez mais atolada na lama da falta de cultura.
Tem quem goste e alimente este estado de caos. Eu não! Fiquemos com "É d'Oxum", é mais saudável e serve como bálsamos d'alma.

Nessa cidade todo mundo é d'Oxum
Homem, menino, menina, mulher
Toda a cidade irradia magia
Presente na água doce
Presente na água salgada
E toda a cidade brilha
Seja tenente ou filho de pescador
Ou importante desembargador
Se der presente é tudo uma coisa só
A força que mora n'água
Não faz distinção de cor
E toda a cidade é d'Oxum
É d'Oxum
É d'Oxum
Eu vou navegar
Eu vou navegar nas ondas do ma
Eu vou navegar nas ondas do mar

Descanse em paz Vevé, descanse em paz e nas águas d'Oxum!
Fonte; Bahia Já

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